SANGUE LUSITANO
Jorge Linhaça
Meu coração é a nau,
a singrar mares bravios...
Na boca o gosto do sal
do batismo dos gentios.
Nas praias deste Brasil
de Cidreira até Natal
meu peito sempre sentiu
sudades de Portugal.
Grita , ó sangue lusitano!
Corre insano pelas veias.
Das areias, ao mar plano,
tanto amo a maré cheia.
Sigo nas ondas do tempo,
retorno à Lisboa amada,
d'onde co'a força dos ventos
partiu pra cá a armada.
E ao longo da jornada,
venho à bordo, ao relento,
singrando águas passadas
co'a força do pensamento
Grita , ó sangue lusitano!
Corre insano pelas veias.
Das areias, ao mar plano,
tanto amo a maré cheia.
Encontro lá o Caminha,
troco idéias com Cabral,
Me contam coisas das índias,
de Goa e Guiné Bissau.
Na viagem imortal,
as naus seguem suas trilhas;
na calmaria ou temporal
segue a valente marinha.
Grita , ó sangue lusitano!
Corre insano pelas veias.
Das areias, ao mar plano,
tanto amo a maré cheia.
Quando vimos dar à costa,
alguém grita, "Terra à vista!"
s'é a India pouco importa,
importa mais a conquista.
Quando o belo se avista,
e a sorte bate à porta,
reza-se logo uma missa
que nossas almas conforta.
Grita , ó sangue lusitano!
Corre insano pelas veias.
Das areias, ao mar plano
tanto amo a maré cheia.