Quando deponho sobre os teus dedos
Quando deponho sobre os teus dedos de frio
uma mão de grinalda e de sonhos
vejo o amanhã inscrito nos teus olhos.
VIAGE
Para habitar as planícies da ausência
e escalar os montes de tempo
que não vives
eis a secreta viagem
duma ave imaginária
em busca do instante
onde tudo recomeça
AGORA (NAO) PROFESSO
Agora não professo
nem sussurro ao vento
os segredos que reinvento,
remo na transumância dos dias.
O sonho, esse discípulo
da noite dissipada,
inspira-me à peregrinação.
Agora não tenho fronteiras,
mas quando o exílio da memória
me retém o espelho dos dias
ao sentido original das coisas
regresso, porque é necessário
ser contemporâneo do tempo.
Agora, sim, professo:
viver e abraçar os rumores
do presente.
MIA COUTO
Gloria de Sant'Anna
Do fundo da noite a mesma toada batendo. (É noite de medo?) A mesma toada por sobre os telhados, trazendo mensagens que tombam desfeitas. (Coladas aos vidros há vozes de greda). A mesma toada roçando na porta, batendo. Por sobre as ramadas, calcando o capim, em volta da serra, caindo do espaço, em ecos de outrora por todos os lados.