OS PRATOS NO VARAL
Jorge Linhaça
EH,CaraPau!
Jorge Linhaça
Estou a ver que hei de tentar ser "Pau pra toda obra", embora não me apeteça tanto falar do Pau, inda mais depois dos belos trabalhos, "Paus de dar em doidos", que li.
Mas como não sou do que "fogem do Pau", ( olhem lá o que estão a pensar, só não me esquivo aos desafios).
Ainda mais sendo PAUlista e PAUlistano, nascido e criado na minha louca PAUlicéia- além de ser são PAUlino-, não hei de deixar o meu Pau, por quantas PAUladas eu leve.
Existe uma brincadeira musicada que diz assim:
"Paulista sem pau é lista
Paulista sem lista é pau
tirando o pau do paulista
paulista fica sem pau"
Eu hein! Deixem cá o meu pau sossegado, ele não está a incomodar ninguém...
Mas lá voltando ao PAU; longo, roliço e reluzente herói deste desafio, fico cá a pensar em minha mocidade, a brincar com a "espada de Pau" sem ter uma bainha onde guarda-la.
Como não havia mesmo outra hipótese, era com a mão que a empunhava em riste, e lá
ia a espada a escarafunchar grutas imaginárias até melar-se na lava dos dragões
Há também as casas de Pau-a-pique, cujo nome per si já dá o que falar, inda mais se forem iluminadas com luzes vermelhas.
O mais interessante é que nessas casas os paus são entrelaçados para dar-lhes sustento, ou seja sem os paus entrelaçados a casa vem logo abaixo.
Há quem goste, eu de minha parte deixo lá esses paus de lado.
E cá, nas festas juninas não pode faltar o famoso Pau-de-sêbo para onde alguns mais afoitos correm a tentar escala-lo subindo e escorregando por ele na esperança de apanhar a prenda estratégicamente colocada em seu topo.
Nem é preciso dizer que saem de lá todos doloridos pelo esforço e ainda mais, ensebados.
Ainda nessas festas é bonito de se ver, moças e rapazes a pegar na vara, prima mais delicada do Pau, a tentar pescar a maior prenda ofertada.
Eu como sou cara-de-Pau, prefiro lá a barraca dos beijos.
Mas o que não fico mesmo é plantado como um ás-de-Paus à espera da festa acabar.
Um dos meus heróis dos quadrinhos, mais tarde dos desenhos animados e já agora em filme,
é "o Coisa" do quarteto fantástico, que na falta de um bordão melhor, atira-se á luta gritando " Tá na hora do Pau" mesmo sendo ele feito de pedra.
Coitados dos vilões, que ao verem aquele brutamontes a correr em sua direção, com o singelo bordão a sair de sua pétrea garganta, devem correr esbaforidos a pensar no que ele está realmente a querer dizer.
Afinal seguro morreu de velho, não é mesmo? Eu é que não lá ficava para constatar os resultados.
E para não PAUlifica-los mais com meu Pau, vou aqui me despedindo, para não me tornar algo como um Pau-de -cabeleira...
EH CaraPau!
DIAMANTES NÃO SE MOLDAM
Jorge Linhaça
Diamantes não se moldam, lapidam-se, limpam-se suas arestas, dá-se polimento, mantendo-se as suas características mais preciosas.
Os verdadeiros diamantes não são formatados ao bel prazer do mestre joalheiro, pelo contrário; é a maestria deste que faz com que perceba a forma final da pedra com a qual trabalha.
De um diamante, retiram-se os excessos, respeitando o núcleo da gema preciosa que se tem nas mãos. A forma já é pré-existente, é apenas estimulada a surgir em sua plena beleza.
Ao contrário de um vaso de barro, os diamantes não admitem ser moldados ao bel prazer do artista, afinando ou engrossando as suas paredes, acinturando ou dilatando o seu bojo.
O diamante já existe por si, não é fruto da manipulação de uma matéria prima disforme.
A argila, nas mãos de um brilhante oleiro, ganha formas magistrais; nas mãos de um artista, ganha cores e desenhos intrigantes, quando o barro é cozido, vitrificado, envernizado, etc, criam-se verdadeiras obras de arte de imensa beleza ou singeleza funcional.
O valor do vaso é fruto da perícia do artista, de sua habilidade em tornar a matéria prima bruta em um objeto de valor agregado.
Os diamantes, ao contrário, já tem seu valor por si mesmos, independem das mãos do artista para que tal valor exista. O que o artista faz é simplesmente extrair do diamante o melhor de si, tornando-o mais brilhante, polindo suas arestas, lapidando-o e incrustando-o em jóias delicadamente trabalhadas para receber a pedra preciosa.
Se, da argila, faz-se ao mesmo tempo vasos de fina porcelana ou rústicos e funcionais tijolos ou blocos, ou ainda, apenas se abandona num canto a matéria prima, até que se encontre utilidade para ela; dos diamantes não saem senão diamantes. Ninguém deixa um diamante descansando num canto,... antes se valoriza a pedra bruta que se tem nas mãos, trabalha-se sobre ela até extrair o máximo que sua beleza pode oferecer.
Vasos, por maior que seja seu valor e beleza, quebram-se, descascam-se, lascam-se, perdem a cor e o brilho...diamantes jamais se partem. Diamantes são eternos!
Podem ter seu brilho embotado pela poeira do tempo, as jóias onde estão incrustados podem partir-se, mas o diamante sobrevive, sua essência persiste.
Os seres humanos, em sua magnífica diversidade, são blocos de argila ou diamantes brutos. Reconhecer o que se tem nas mãos é tarefa que só pode ser plenamente desempenhada por quem tenha em si a capacidade de ver com olhos atentos.
Quando nos falta a sensibilidade e a perícia para perceber a diferença entre um e outro, muitas vezes procuramos pegar um diamante e tentar moldá-lo às nossas exigências. Ora, como um diamante não se molda dessa maneira, com essa facilidade, acabamos por confundí-lo com um pedaço de argila impuro, e o descartamos como algo de pouco valor.
Pessoas manipuladoras, via de regra, preferem trabalhar com argila, `a qual, com algum esforço, tornam úteis aos seus objetivos mais imediatos, moldando-a à seu bel prazer.
Já o mestre joalheiros, acostumados a compreender que a beleza vem de dentro para fora, precisando apenas ser desvendada, não tem pressa em seu labor, e não se importam se o diamante trabalhado, ficará ou não em suas mãos, o seu propósito, do mestre, é fazer brilhar a jóia, sua satisfação é a de realizar um trabalho bem feito, sabe que o fruto de sua dedicação não repousa nas vantagens imediatas que seu trabalho possa oferecer, e sim no brilho próprio da gema que passou por suas mãos.
Diamantes ou argila, oleiros ou mestres joalheiros, opções de papéis que podemos exercer em nossas vidas.
Quando assumimos o nosso papel, e deixamos de lado as opiniões, nem sempre isentas de interesse, de outras pessoas, passamos a caminhar pelo nosso próprio caminho, com o coração leve e sereno, livre dos falsos sorrisos e do peso de abrir mão de nossa felicidade para agregar os aplausos do mundo ou parte dele.
Nem sempre é fácil a caminhada, mormente diante de opções que nos façam escolher entre fazer parte dos vasos expostos em uma galeria, reproduzindo o que todos fazem, ser mais um entre outros tantos, recebendo o aplauso comedido dos iguais, ou preservar conosco os diamantes que a vida nos oferece, vez por outra, em sua forma bruta e que desistimos de lapidar, às primeiras dificuldades, ou por que não nos sentimos capazes de tal tarefa, ou por que não percebemos seu valor, ou ainda por que nos importamos demais com as aparências e com que os outros possam achar de nossa insistência.
Oleiros há muitos, não é preciso muito para se fazer tijolos, um pouco mais para se esculpir o barro. Mestres joalheiros são mais raros, mais especializados, assim como os diamantes são mais raros do que a argila.
Deus não põe diamantes nas mãos de oleiros para que sejam lapidados, se um diamante te cair nas mãos, saibas que tens a capacidade de lapidá-lo.
Não trate diamantes como argila! Saiba ver o seu brilho escondido; aprenda com ele, e por certo, ao mesmo tempo que lapidas a pedra, tua própria alma sofrerá as transformações necessárias para o teu próprio crescimento.
Mas, se desprezas o diamante, e a riqueza da experiência, preferindo ser barro ou oleiro, pode ser que , nunca mais, tenhas um diamante em tuas mãos.
Já, a argila...