PICADEIRO DAS EMOÇÕES

 
Jorge Pedro Barbosa



Vou Ser Senhor do Mundo




Vou falar com o Pássaro-Rei, 

 vou-lhe pedir um favorzinho:

vou ver se ele me dá emprestado

sete penas brancas

para eu voar

e ir poisar no teto do mundo.

 
Ana Júlia Monteiro Macedo Sança
Ana Júlia Monteiro Macedo Sança,  Luso-Canadiana-

Cabo-Verdeana. Poetisa laureada, a Ana já ganhou

prémios em Itália, Portugal e Estados

Unidos. É funcionária do Consulado-Geral de Portugal em

Toronto (Canadá).

 Emigrante


      O drama começa no momento

      em que nasce a ideia de "partir"

      Aí param os sonhos

      E começam os pesadelos.





      Emigrante!





      Esta é a alcunha que te deram.





      A tragédia que isso acarreta

      consome anos de existência

      aniquilando lentamente

      castelos edificados de ilusões

      que dos sonhos ainda restam.





      Emigrante!

      Fantasia dos que ficam





      Am’’ricas

      Alemanhas

      Franças

      e outros mundos sempre iguais...





      Emigrante!





      Suportar esse título tão honradamente

      ter que comer o pão que o diabo amassou

      ser sempre forasteiro em porta alheia...





      Sim, emigrante!



      Emigrante = sobrevivência

      Gritos de alma

      ambição amordaçada

      desejos frustrados...



      VITA BREVIS num copo de vinho

      Esquecer as amarguras

      Da "Terra Prometida"

 

*****

É Urgente o Amor


     A luz que a chama me prende

     No caminho rude que meus pés me levam

     E que meus olhos alcançam distâncias...

     Mesmo no insólito, continuo resistindo

     As notícias chegadas de todo o canto da terra

     Ao encontro implacável do homem com a natureza

     O sopro frio do vento, enrijecendo os caracteres

     No perfil duro e fixo de cada ser

     Milhares de lágrimas repartidas em cada pálpebra...

     É urgente e necessário que se combata o mal

     É tempo de solidarizar e construir o bem

     Ainda é tempo de inventar o Amor.


 


 ARNALDO FRANÇA

 Testamento para o Dia Claro




    Quando do fundo da noite vier o eco da última palavra submissa

    E a patina do tempo cobrir a moldura do herói derradeiro,





    Quando o fumo do último ovo de cianeto

    Se dissipar na atmosfera de gases rarefeitos

    E a chama da vela da esperança

    Se acender em sol na madrugada do novo dia





    Quando só restar na franja da memória

    Lapidada pelo buril dos tempos ácidos

    A estria da amargura inconseqüente

    E a palavra da boca dos profetas

    Não ricochetear no muro do concreto

    Da negrura sem fundo de um poço submerso





    Sejais vós ao menos infância renovada da minha vida

    A colher uma a uma as pétalas dispersas

    Da grinalda dos sonhos interditos.